“Saudades”
de Álvares de Azevedo
Análise do Poema
“Saudades” de Álvares de Azevedo
OLIVER, André
ORTEGA, Nathália
ENDRIGO, Viviane
“Saudades”
de Álvares de Azevedo
Análise do Poema
“Saudades” de Álvares de Azevedo
Resumo: Este trabalho tem por objetivo analisar o poema
“Saudades”, de Álvares de Azevedo. Examinando mais especificamente as suas
características ultra-românticas, a sua relação com o período em que foi
escrito, com seus autores contemporâneas e também a influência exercida por
Lord Byron expressa nesse fragmento da extensa obra do autor. Desenvolvido sob a orientação da Profº Dra.
Martha Baena da S. Maldonado, para conclusão das Atividades Práticas
Supervisionadas do 4º e 5º Semestre do Curso de Licenciatura em Letras – Língua
Portuguesa e Inglesa da Universidade Paulista.
Introdução
Em
1831 nasceu em São Paulo Manuel António Álvares de Azevedo, a maior expressão
do ultrarromantismo da poesia brasileira. Álvares seguiu o caminho de outros
tantos poetas de sua geração; formou-se em Direito na Universidade de São Paulo
e morreu jovem vítima de complicações causadas por um acidente de cavalo, aos
21 anos de idade.
Definido por alguns críticos e estudiosos da
literatura como “a antítese personificada”, Álvares de Azevedo nos deixou uma
vasta produção literária, se comparado ao tempo em que se dedicou à literatura.
A sua poesia, a prosa e o teatro – sete livros, discursos e cartas – foi
escrita em um curto período de quatro anos, enquanto foi universitário. Dentre
essas obras encontramos a mais notável obra da Literatura de Poesia
Ultrarromântica Brasileira A Lira dos
Vinte Anos.
Publicada em 1853, um ano após a morte de Álvares de
Azevedo, A Lira dos Vinte Anos, foi o principal título do autor, e nela consta
o dualismo presente em sua linguagem poética, ou seja, a contrariedade. Essa
característica romântica foi detalhadamente e fortemente expressa nesta obra de
Álvares de Azevedo, trazendo à tona o byronismo1 que influenciou a
sua criação literária.
Na primeira parte desta antologia poética
encontramos, após analisar a obra, o poema “Saudades”, e para contribuir ao
entendimento do estilo e influência de Álvares de Azevedo, buscamos minuciar
cada verso, e trazer as características que existem em cada um deles que
definiram o seu estilo literário, e demonstraram as influencias e
acontecimentos que contribuíram para a construção dele.
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1Byorismo é o
conjunto de características que advém da obra do poeta inglês Lord Byorn,
(1788-1824). Toda a obra de Byron, que exprime o pessimismo romântico,
com a tendência a se voltar contra os outros e contra a sociedade. Obras: A Peregrinação de Childe Harold e Don Juan.
O Poema
Saudades
Tis vain to
struggle - let me perish young
BYRON
BYRON
Foi por ti que num sonho de ventura
A flor da mocidade consumi...
E às primaveras disse adeus tão cedo
E na idade do amor envelheci!
Vinte anos! derramei-os gota a gota
Num abismo de dor e esquecimento...
De fogosas visões nutri meu peito...
Vinte anos!... sem viver um só momento!
Contudo, no passado uma esperança
Tanto amor e ventura prometia...
E uma virgem tão doce, tão divina,
Nos sonhos junto a mim adormecia!
Quando eu lia com ela... e no romance
Suspirava melhor ardente nota...
E Jocelyn sonhava com Laurence
Ou Werther se morria por Carlota...
Eu sentia a tremer e a transluzir-lhe
Nos olhos negros a alma inocentinha...
E uma furtiva lágrima rolando
Da face dela umedecer a minha!
E quantas vezes o luar tardio
Não viu nossos amores inocentes?
Não embalou-se da morena virgem
No suspirar, nos cânticos ardentes?
E quantas vezes não dormi sonhando
Eterno amor, eternas as venturas...
E que o céu ia abrir-se... e entre os anjos
Eu ia despertar em noites puras?
Foi esse o amor primeiro! requeimou-me
As artérias febris de juventude,
Acordou-me dos sonhos da existência
Na harmonia primeira do alaúde.
...
Meu Deus! e quantas eu amei... Contudo
Das noites voluptuosas da existência
Só restam-me saudades dessas horas
Que iluminou tua alma d'inocência.
Foram três noites só... três noites belas
De lua e de verão, no val saudoso...
Que eu pensava existir... sentindo o peito
Sobre teu coração morrer de gozo.
E por três noites padeci três anos,
Na vida cheia de saudade infinda...
Três anos de esperança e de martírio...
Três anos de sofrer - e espero ainda!
A ti se ergueram meus doridos versos,
Reflexos sem calor de um sol intenso,
Votei-os à imagem dos amores
Pra velá-la nos sonhos como incenso.
Eu sonhei tanto amor, tantas venturas,
Tantas noites de febre e d'esperança...
Mas hoje o coração parado e frio,
Do meu peito no túmulo descansa.
Pálida sombra dos amores santos!
Passa quando eu morrer no meu jazigo,
Ajoelha ao luar e entoa um canto...
Que lá na morte eu sonharei contigo.
Compreendendo o Contexto de Criação
da Obra
Para podermos entender o poema, é preciso antes
definir a estrutura da obra A Lira dos
Vinte Anos, aonde ele foi publicado. Ela
foi dividida em três partes, sendo a que na primeira e na terceira vemos um
Álvares de Azevedo adolescente, casto, sentimental e ingênuo, a qual ele mesmo
chama de A Face de Ariel, ou seja, a face do bem, e foi nesse contexto que o
poema “Saudades” foi escrito. A segunda parte da obra foi já escrita sobre um
autor mais obscuro, que vivia em mundo decadente, cheio de viciados,
prostitutas e de andarilhos solitários sem rumo vínculos e sem destino. É a
parte chamada de Face de Calibam, ou seja, a face do mal.
A utilização dos nomes de “Ariel e Calibam” vem da
peça de William Shakespeare, (1564-1616), chamada de A Tempestade. São entidades mitológicas que representam
respectivamente o bem e o mal. Esses personagens encarnam as duas faces
exploradas pelo autor com Ariel estão os temas caros ao Romantismo, como o
amor, a mulher e Deus, trabalhados num viés platônico e sentimental. A mulher
assume caráter sobre-humano de virgem angelical, objeto amoroso de um encontro
que, para a angústia do eu-lírico, nunca se realiza. Caliban, por sua vez, é a
face sarcástica, irônica e autocrítica do fazer poético. Sobressaem os temas da
melancolia, da tristeza, da morbidez e de Satã.
Analisando o
Poema
O
poema “Saudades” faz parte da primeira parte da Lira dos Vinte Anos, portanto escrito sob a face de Ariel. Iniciemos
pela dedicação do poema que contém um verso de Lord Byron: Tis vain to struggle - let me
perish young” Escrito em inglês arcaico, obtivemos uma tradução aproximada
que diz: 2“Não haja luta,
deixe-me morrer jovem”. Podemos desde já apontar o byronismo da obra, pois
o pessimismo e a busca pela morte como um ideal romântico já é anunciada antes
mesmo do poema, através desses versos.
Versos
que destacam as características ultrarromânticas são vistos nas primeiras
estrofes, como, “E às primaveras disse
adeus tão cedo. E na idade do amor envelheci!” e “Vinte anos! derramei-os gota a gota. Num abismo de dor e
esquecimento..”. Aonde encontramos a expressão da dor do amor, do
pessimismo que lhe causa a perda da vontade de viver, por conta de sentir algo
tão poderoso pela pessoa amada.
“De
fogosas visões nutri meu peito... Vinte anos!... sem viver um só momento!”. Nesse verso podemos identificar
uma característica que os ultrarromânticos tinha quando ao amor, a dualidade
que envolve a atração e o medo, desejo e culpa. Segundo Mario de Andrade,
(Escritor e Crítico Literário Modernista 1893-1945), os românticos e
principalmente ultrarromânticos, temem a realização amorosa. Por isso existe
essa ilusão; o amor é algo idealizado e possível somente no mundo poético, em
sua imaginação.
Contudo,
no passado uma esperança. Tanto amor e ventura prometia... E uma virgem tão
doce, tão divina, Nos sonhos junto a mim adormecia! Para
os ultrarromânticos o ideal feminino é normalmente relacionado com figuras
incorpóreas ou assexuadas, como anjo, criança, ou como Álvares de Azevedo nos
mostrou aqui, como uma virgem imaculada desprovida de sentimentos de desejos
humanos.
Sempre
que houver referências ao amor físico, serão apenas indiretamente,
sugestivamente ou superficialmente como no verso a seguir: “Foram
três noites só... três noites belas. De lua e de verão, no val saudoso... Que
eu pensava existir... sentindo o peito Sobre teu coração morrer de gozo.”. Álvares insinua-nos que houve, por
breve momento, no caso três dias, o contato físico com a pessoa amada.
Voltemo-nos para a imagem completa do poema, o
todo que ele nos traz. Nesses versos Álvares de Azevedo explicita a dor de um
sentimento único e exclusivo da língua portuguesa; a saudade.
Na primeira estrofe o poeta entrega-se a dor,
deixando que ela se materialize em sua vida a ponto de envelhecer os seus dias,
tendo em vista que Álvares tinha entre dezessete e vinte e um anos de idade
quanto escreveu Lira dos Vinte Anos: Foi
por ti que num sonho de ventura.
A
flor da mocidade consumi... E às primaveras disse adeus tão cedo. E na idade do
amor envelheci!
Vemos também as referencias a personagens de obras
consagradas na literatura mundial como Werther e Carlota, personagens principais
da obra Os Sofrimentos do Jovem Werther,
publicada em 1774, escrita pelo alemão Goethe, que é considerada, por muitos
estudiosos, como um marco da Literatura Mundial. Essa citação á respeito de
Werther e Charlotte, (Carlota no alemão), traz-nos a nítida noção do
ultrarromantismo que dava início ao amor impossível, ao pessimismo, ao chamado
“Mal do Século”, afinal trata-se de um amor não correspondido, já que Charlotte
é comprometida com outro homem.
Considerações
Finais
“Saudades” nos mostra com clareza a idealização do
“Eu-lírico”, ou seja, da subjetividade, traço marcante do movimento
ultrarromântico. Apesar de qualquer sentimento ser algo subjetivo, os
românticos motivados pela imaginação e pela fantasia, idealizavam diversos
temas, ou seja, os tratavam da maneira como queriam, guiados pela sua ótica
pessoal. Essa subjetividade tonar o poeta romântico um egocêntrico, ou seja,
ele é voltado predominantemente para o próprio eu e seus sentimentos, chegando
a beirar algo como um “narcisismo pessimista”.
Consideramos que a influência de Lord Byron na obra
de Álvares de Azevedo. Essa forma particular de ver o mundo, no caso de Álvares
e outros poetas contemporâneos, a vida boêmia, noturna, voltada para o vício,
para os prazeres da bebiba, do fumo e do sexo.
Sendo a relação entre o autor romântico e o mundo
sempre medido pela emoção, isso trouxe a Alvares de Azevedo a devida porção de
melancolia para sua obra. Aonde os sentimentos são exacerbados e expostos de
maneira extrema nos seus versos. Diante de um tema amoroso, o tratamento
literário nos revela esse grande envolvimento sentimental, sendo a saudade um
deles, dentre a tristeza, a desilusão, e como já dissemos o pessimismo, muito
presente.
Referências
Bibliográficas
CEREJA,
W. R. ; MAGALHÃES, T. C. Literatura Brasileira.
São Paulo: Atual Editora, 1995. (463 páginas).
AZEVEDO,
A. A lira dos Vinte Anos. 2ª Edição. São Paulo.
Editora Escala. Coleção Grandes Mestres da Literatura Brasileira Volume 11.
BOSI,
A. História Concisa da Literatura
Brasileira. 41 Edição. São Paulo. Editora Cultrix.2009 (528 páginas).
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