GREGÓRIO E BOCAGE: UMA BREVE ANÁLISE DAS DIFERENÇAS EXISTENTES
ENTRE A POESIA BARROCA E ÁRCADE DE LÍNGUA PORTUGUESA
OLIVER, André
Graduando em Letras - UNIP
ROCHA, Viviane
Graduando em Letras - UNIP
ORTEGA, Natália
Graduando em Letras - UNIP
JUNIOR, Ricardo
Graduando em Letras – UNIP
DANIEL, Wellington
Graduando em Letras - UNIP
Resumo:
Este
artigo científico tem a finalidade de apresentar a metodologia e os resultados
de uma análise literária das diferenças entre o Barroco e o Arcadismo, dois
estilos literários presentes na Língua Portuguesa. Essa análise é feita
mediante o estudos de um textos de um autor de cada gênero; Gregório de
Matos e Bocage, ambos deixaram textos que evidenciam as características
precisas desses estilos literários.
Palavras
chave: Barroco, Arcadismo, Poesia, Língua Portugesa.
1 –
Introdução
Análise
de gêneros literários requerem o conhecimento de seu autores, pois, obviamente,
um gênero literário precisa ter a concretização de sua existência através de
obras, para que seja realizado e tenhamos a possibilidade de conhecê-lo e
diferenciá-lo dos anteriores, conhecendo assim a evolução da literatura
. As
informações descritas neste breve artigo foram obtidas mediante análise e
estudo das obras de Gregório de Matos, único poeta do Barroco nascido no
Brasil-Colônia, e Manuel du Bocage, célebre e odiado mestre do arcadismo
português, selecionamos um texto de cada autor selecionado para essa avaliação
e concretização dos objetivos desse artigo.
Estudar
essas duas escolas literárias requer, além do conhecimento em ambas, que
tenhamos estudado a evolução da literatura na língua portuguesa, vinculada a
história de Portugal e do Brasil Colonial.
Analisamos,
primeiramente, o classicismo português, propagado pelo renascimento, com idéias
humanistas e o retorno ao estilo greco-latino de desde o século XI, até,
aproximadamente, a morte de Camões, em 1580. Entrando na materialização da
Contrareforma da Igreja chegamos ao barroco, que atravessou a idade média
derramando seus exageros de formas e palavra. Chegamos, por fim, no Arcadismo,
em busca do retorno aos clássicos, idealizando a natureza e a mitologia
greco-romana, para afimar o patriotismo português através de odes, sonetos e
epístolas.
2- Breve
História dos Gêneros
2.1
Barroco
A fé
católica entrava em crise política no século XVI, e como medida de ataque foi
convocado pelo Vaticano em 1545 o Concílio deTrento, ocorreu na cidade italiana
de Trento, com a finalidade de confirmar a soberania da fé católica, no que diz
respeito a salvação do cristão. Pois a Reforma Protestante de Calvino, Lutero e
o Anglicanos, propagava-se ameaçando a influência política do Clero. E também a
estabilidade da Monarquia em alguns reinos, como a Coroa Francesa, ostentada
pelos filhos de Catarina de Médice.
Dentro do
Concílio foram restabelecidos e criados meios de pregação das doutrinas como; A
retomada do Tribunal do Santo Ofício, a Eleição da Vúlgata como a versão
oficial da Bíblia, o icentivo a catequese nas américas coloniais a fim de
adquirir novos fiéis e manter a soberania católica no novo mundo e a criação de
novas ordens religiosas para essa finalidade, como os Jesuítas. E assim nascera
a arte que seria usada como a propaganda da Igreja Católica em busca de fiéis;
o Barroco.
2.2
Arcadismo
Arcadismo
vem do grego Arcádia, uma região na Grécia antiga, e é intencionalmente, um
movimento reformista, que opõe-se totalmente ao Barroco e dialoga, diretamente,
com o classicismo do movimento renascentista.Esse período em que o Arcadismo
ascendia na literatura e na arte, compreende a revolução social, influenciada
pelo humanismo e o racionalismo francês.
Vários
fatos históricos influenciaram a sua criação; na América a declaração da
independência dos Estados Unidos e os movimentos inconfidentes do Brasil
Colonial até a chegada da Família Real em 1808. Na Europa, a burguesia começa a
dominar economicamente o Estado, e na metade do século XVIII, começa a
Revolução Industrial na Inglaterra, marcando assim, o Século das Luzes, como
divisor de águas na história.
3.
Características
3.1 O
Confuso Barroco
A poesia
barroca foi fortemente caluniada pelas Academias e aprecidores da escrita até
meados do século XX, considerada de mal gosto, mal feita, etc. O detalhismo de
imagens nas obras plásticas e o trabalho alegórico1 nos textos
dos poetas dão ao barroco a sua principal característica: o excesso. Analisando
o nosso foco de estudo, a literatura, a principal característica do texto
barroco é a utilização de metáforas.
O Barroco
faz uso do cultismo, ou seja, o uso de palavras polidas, ou, difíceis,
restringindo a sua compreensão aos indivíduos letrados. Dessa maneira faz com
que a subjetividade da poesia barroca fique evidenciada, e destaca os conflitos
do autor de maneira a trabalhar a ambiguidade e a contrariedade, deixando o
leitor mais próximo de entender do que ele realmente sentia, mas sempre, de
maneira a deixá-lo em dúvida.
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1 Definimos
como trabalho alegórico a dedicação do autor em detalhar os sentidos e fazer
uso de metáforas para transmissão de suas mensagens na poesia Barroca. Isso se
encaixa perfeitamente com o significado de Alegoria: discurso acerca de uma
coisa para fazer compreender outra. (Massaud, Moisés,1999, p15).
3.2
O Métrico Arcadismo
O Arcadismo
buscava o retorno ao humanista do renascimento, exaltava a natureza, a
mitologia e a valorização de tudo que diz respeito a cultura grego-romana.
Afastando as influências religiosas, os poetas árcades, buscavam abrir
para encontrar o eu lírico questionar as questões do
cotidiano político, de maneira a duvidar da necessidade de dedicar tempo a esse
tipo de assunto.
A
metricidade trouxe de volta os odes, sonetos, elegias, epístolas etc, assim
como no classicismo, isso trazia qualidade, ou melhor definindo, enredo e
harmonia, dando as obras o verdadeiro sentido de obra perfeita, de texto
literário. Exaltar a natureza é uma ação evidente na poesia árcade, os campos,
a vivência intensa dos dias de tranquilidade sem a preocupar-se. Ter uma vida
mediana, ou, medíocre, como destacada na expressão aurea mediocritas,
sem a precisão soluções, mas desprezando os anseios da vida, essas são as
características das obras árcades.
4.
Análise das Diferenças entre Barroco e Arcadismo
Para
podermos analisar as diferenças desses dois gêneros escolhemos seus mais
célebres, amados e odiados autores: Gregório de Matos, nascido no
Brasil-Colônia, e eleito o único autor oficial do Barroco brasileiro e Manual
Maria Barbosa du Bocage, português de Setúbal e eleito o maior e mais
importante poeta do arcadismo lusitano.
4.1 O Barroco: detalhando Gregório de Matos
Dentro os
diversos textos do barroco de Gregório de Matos, escolhemos para analisar um
texto que enuncia bem a maneira obscura, subjetiva e cultista do Barroco:
Soneto II
Na
confusão do mais horrendo dia,
Painel da
noite em tempestade brava,
O fogo
com o ar se embaraçava
Da terra
e água o ser se confundia.
Bramava o
mar, o vento embravecia
Em noite
o dia enfim se equivocava,
E com
estrondo horrível, que assombrava,
A terra
se abalava e estremecia.
Lá desde
o alto aos côncavos rochedos,
Cá desde
o centro aos altos obeliscos
Houve
temor nas nuvens, e penedos.
Pois dava
o Céu ameaçando riscos
Com
assombros, com pasmos, e com medos
Relâmpagos,
trovões, raios, coriscos
Neste poema, Gregório nos traz várias característica de textos Barrocos, como por exemplo:
"Painel da noite em tempestade brava" - encontramos nesse verso o uso do cultismo, pois ele usa a palavra Painel para descrever a noite, sendo essa informação apenas complementar, já que para entender que a noite estava em tempestade brava não era necessário essa informação.
"Da terra e água o ser se confundia" - típica situação de conflito encontrada no Barroco, o autor, em sua subjetividade sempre demonstra certa confusão para descrever o estado de espírito em que se encontra.
"Lá desde o alto aos côncavos rochedos, Cá desde o centro aos altos obeliscos" Gregório detalha as situações, dando ênfase a esses detallhes, deixando o verso mais carregado de emoção e de dedicação do leitor para sentí-lo.
"Com assombros, com pasmos, e com medos" - Mais detalhes, mais palavras usadas para descrever o estado em que se encontrava o tempo, ou seja, excesso de informações e riquezas de detalhes.
Em todo o poema está implícita a informação do que se refere e de onde vem a inspiração do autor para escrever o texto, portanto vemos de maneira explícita a característica de subjetividade do Barroco, ou seja, é algo não exposto na obra de forma direta e nem indireta.
4.1 O Arcadismo: detalhando Bocage
Para desvendar os detalhes árcades do clássico Bocage, escolhemos um poema, aonde é nítido o trabalho em manter o texto identificado como uma produção vinda de um poeta árcade, e é um texto mundialmente conhecido como um dos melhores de Manuel du Bocage;
Olha, Marília, as flautas dos pastores |
Olha, Marília, as flautas dos pastores,
Que bom que soam, como estão cadentes!
Olha o Tejo a sorrir-te! Olha não sentes
Os Zéfiros brincar por entre as flores ?
Vê como ali, beijando-se os Amores
Incitam nossos ósculos ardentes!
Ei-las de planta em planta as inocentes,
As vagas borboletas de mil cores!
Naquele arbusto o rouxinol suspira,
Ora nas folhas a abelhinha pára,
Ora nos ares sussurando gira:
Que alegre campo! que manhã tão clara!
Mas ah! Tudo o que vês, se eu te não vira,
Mais tristeza que a morte me causara.
Ele deixou não apenas marcas de arcadismo nesta obra dedicada a Marília, um de seus amore, mas as marcas do classicismo renascentista, que é a principal característica e a razão de existência do gênero árcade. A o mais nítido traço clássico do poema é que ele é um soneto, tendo seus catorze versos distribuídos em 2 quartetos e 2 tercetos.
Como o bucolismo é uma marca particular do arcadismo, o cenário do poema é a natureza: "Olha o Tejo a sorrir-te! ", e em "Que alegre campo! que manhã tão clara!" e "
As vagas borboletas de mil cores!". A referência a mitologia gerga, característica clássica do retorno ao greco-latino, é perceptível em 2 versos do poema:
"Olha, Marília, as flautas dos pastores," Essa referência acontece quando ele cita sobre as flautas dos pastores, que faz alusão a Pan, deus que chefiava os pastores que se dedicavam além do pastoreio, à poesia, na Arcádia, região mitológica da Grécia: é daí que se origina o nome Arcadismo. A mesma referência a mitologia é feita quando ele cita
Os Zéfiros brincar por entre as flores ? , o poeta faz alusão a figura de Zéfiro, nome dado a divindade que personifica o vendo do oeste.
5. Conclusão
Diante da interpretação de dois famosos e importantes poetas de ambos gêneros, nos deparamos com a história da literatura da Língua Portuguesa, de maneira a compreender as diferenças entre a ideologia poética que crescia de tempos em tempos.
Bocage e Gregório de Matos, embora não fosse conterrâneos, eram irmãos de língua e de escrita. É possível admirar e passar a compreender duas obras, mesmo que por muito não possamos entendê-las após a imediata leitura. Entendemos que ambos os gêneros eram contemporâneos aos fatos históricos que aconteciam, e cada um seguiu a linha de raciocínio e de sentimento, (não se esquecendo do discurso do poeta que é o sujeito da criação), nos levando a novo nível de admiração com as diferenças em poesias que antes julgávamos todas iguais, pertencentes a mesma dificultosa, complexa e convidativa língua, o Português.
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