quarta-feira, 21 de maio de 2014

APS: Artigo Científico

GREGÓRIO E BOCAGE: UMA BREVE ANÁLISE DAS DIFERENÇAS EXISTENTES ENTRE  A POESIA  BARROCA E ÁRCADE DE LÍNGUA PORTUGUESA

OLIVER, André
Graduando em Letras - UNIP

ROCHA, Viviane
Graduando em Letras - UNIP

ORTEGA, Natália
Graduando em Letras - UNIP

JUNIOR, Ricardo
Graduando em Letras – UNIP

DANIEL, Wellington
Graduando em Letras - UNIP

Resumo:
Este artigo científico tem a finalidade de apresentar a metodologia e os resultados de uma análise literária das diferenças entre o Barroco e o Arcadismo, dois estilos literários presentes na Língua Portuguesa. Essa análise é feita mediante o estudos de  um textos de um autor de cada gênero; Gregório de Matos e Bocage, ambos deixaram textos que evidenciam as características precisas desses estilos literários.


Palavras chave: Barroco, Arcadismo, Poesia, Língua Portugesa.

1 – Introdução

 Análise de gêneros literários requerem o conhecimento de seu autores, pois, obviamente, um gênero literário precisa ter a concretização de sua existência através de obras, para que seja realizado e tenhamos a possibilidade de conhecê-lo e diferenciá-lo dos anteriores, conhecendo assim a evolução da literatura
. As informações descritas neste breve artigo foram obtidas mediante análise e estudo das obras de Gregório de Matos, único poeta do Barroco nascido no Brasil-Colônia, e Manuel du Bocage, célebre e odiado mestre do arcadismo português, selecionamos um texto de cada autor selecionado para essa avaliação e concretização dos objetivos desse artigo.
Estudar essas duas escolas literárias requer, além do conhecimento em ambas, que tenhamos estudado a evolução da literatura na língua portuguesa, vinculada a história de Portugal e do Brasil Colonial.
Analisamos, primeiramente, o classicismo português, propagado pelo renascimento, com idéias humanistas e o retorno ao estilo greco-latino de desde o século XI, até, aproximadamente, a morte de Camões, em 1580. Entrando na materialização da Contrareforma da Igreja chegamos ao barroco, que atravessou a idade média derramando seus exageros de formas e palavra. Chegamos, por fim, no Arcadismo, em busca do retorno aos clássicos, idealizando a natureza e a mitologia greco-romana, para afimar o patriotismo português através de odes, sonetos e epístolas.

2- Breve História dos Gêneros  

2.1 Barroco

A fé católica entrava em crise política no século XVI, e como medida de ataque foi convocado pelo Vaticano em 1545 o Concílio deTrento, ocorreu na cidade italiana de Trento, com a finalidade de confirmar a soberania da fé católica, no que diz respeito a salvação do cristão. Pois a Reforma Protestante de Calvino, Lutero e o Anglicanos, propagava-se ameaçando a influência política do Clero. E também a estabilidade da Monarquia em alguns reinos, como a Coroa Francesa, ostentada pelos filhos de Catarina de Médice.
Dentro do Concílio foram restabelecidos e criados meios de pregação das doutrinas como; A retomada do Tribunal do Santo Ofício, a Eleição da Vúlgata como a versão oficial da Bíblia, o icentivo a catequese nas américas coloniais a fim de adquirir novos fiéis e manter a soberania católica no novo mundo e a criação de novas ordens religiosas para essa finalidade, como os Jesuítas. E assim nascera a arte que seria usada como a propaganda da Igreja Católica em busca de fiéis; o Barroco.

2.2 Arcadismo

 Arcadismo vem do grego Arcádia, uma região na Grécia antiga, e é intencionalmente, um movimento reformista, que opõe-se totalmente ao Barroco e dialoga, diretamente, com o classicismo do movimento renascentista.Esse período em que o Arcadismo ascendia na literatura e na arte, compreende a revolução social, influenciada pelo humanismo e o racionalismo francês.
 Vários fatos históricos influenciaram a sua criação;  na América a declaração da independência dos Estados Unidos e os movimentos inconfidentes do Brasil Colonial até a chegada da Família Real em 1808. Na Europa, a burguesia começa a dominar economicamente o Estado, e na metade do século XVIII, começa a Revolução Industrial na Inglaterra, marcando assim, o Século das Luzes, como divisor de águas na história.

 3. Características

3.1 O Confuso Barroco

A poesia barroca foi fortemente caluniada pelas Academias e aprecidores da escrita até meados do século XX, considerada de mal gosto, mal feita, etc. O detalhismo de imagens nas obras plásticas e o trabalho alegórico1 nos textos dos poetas dão ao barroco a sua principal característica: o excesso. Analisando o nosso foco de estudo, a literatura, a principal característica do texto barroco é a utilização de metáforas.
O Barroco faz uso do cultismo, ou seja, o uso de palavras polidas, ou, difíceis, restringindo a sua compreensão aos indivíduos letrados. Dessa maneira faz com que a subjetividade da poesia barroca fique evidenciada, e destaca os conflitos do autor de maneira a trabalhar a ambiguidade e a contrariedade, deixando o leitor mais próximo de entender do que ele realmente sentia, mas sempre, de maneira a deixá-lo em dúvida.  
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Definimos como trabalho alegórico a dedicação do autor em detalhar os sentidos e fazer uso de metáforas para transmissão de suas mensagens na poesia Barroca. Isso se encaixa perfeitamente com o significado de Alegoria: discurso acerca de uma coisa para fazer compreender outra. (Massaud, Moisés,1999, p15). 

3.2  O Métrico Arcadismo

O Arcadismo buscava o retorno ao humanista do renascimento, exaltava a natureza, a mitologia e a valorização de tudo que diz respeito a cultura grego-romana. Afastando as influências religiosas, os poetas árcades, buscavam abrir  para encontrar o eu lírico questionar as questões do cotidiano político, de maneira a duvidar da necessidade de dedicar tempo a esse tipo de assunto.
A metricidade trouxe de volta os odes, sonetos, elegias, epístolas etc, assim como no classicismo, isso trazia qualidade, ou melhor definindo, enredo e harmonia, dando as obras o verdadeiro sentido de obra perfeita, de texto literário. Exaltar a natureza é uma ação evidente na poesia árcade, os campos, a vivência intensa dos dias de tranquilidade sem a preocupar-se. Ter uma vida mediana, ou, medíocre, como destacada na expressão aurea mediocritas, sem a precisão soluções, mas desprezando os anseios da vida, essas são as características das obras árcades.

4. Análise das Diferenças entre Barroco e Arcadismo

Para podermos analisar as diferenças desses dois gêneros escolhemos seus mais célebres, amados e odiados autores: Gregório de Matos, nascido no Brasil-Colônia, e eleito o único autor oficial do Barroco brasileiro e Manual Maria Barbosa du Bocage, português de Setúbal e eleito o maior e mais importante poeta do arcadismo lusitano.

4.1 O Barroco: detalhando Gregório de Matos

Dentro os diversos textos do barroco de Gregório de Matos, escolhemos para analisar um texto que enuncia bem a maneira obscura, subjetiva e cultista do Barroco:

Soneto II

Na confusão do mais horrendo dia,
Painel da noite em tempestade brava,
O fogo com o ar se embaraçava
Da terra e água o ser se confundia.


Bramava o mar, o vento embravecia
Em noite o dia enfim se equivocava,
E com estrondo horrível, que assombrava,
A terra se abalava e estremecia.


Lá desde o alto aos côncavos rochedos,
Cá desde o centro aos altos obeliscos
Houve temor nas nuvens, e penedos.


Pois dava o Céu ameaçando riscos
Com assombros, com pasmos, e com medos
Relâmpagos, trovões, raios, coriscos

Neste poema, Gregório nos traz várias característica de textos Barrocos, como por exemplo: 

"Painel da noite em tempestade brava" - encontramos nesse verso o uso do cultismo, pois ele usa a palavra Painel para descrever a noite, sendo essa informação apenas complementar, já que para entender que a noite estava em tempestade brava não era necessário essa informação. 

"Da terra e água o ser se confundia" - típica situação de conflito encontrada no Barroco, o autor, em sua subjetividade sempre demonstra certa confusão para descrever o estado de espírito em que se encontra. 

"Lá desde o alto aos côncavos rochedos, Cá desde o centro aos altos obeliscos"  Gregório detalha as situações, dando ênfase a esses detallhes, deixando o verso mais carregado de emoção e de dedicação do leitor para sentí-lo. 


"Com assombros, com pasmos, e com medos"  - Mais detalhes, mais palavras usadas para descrever o estado em que se encontrava o tempo, ou seja, excesso de informações e riquezas de detalhes. 


Em todo o poema está implícita a informação do que se refere e de onde vem a inspiração do autor para escrever o texto, portanto vemos de maneira explícita a característica de subjetividade do Barroco, ou seja, é algo não exposto na obra de forma direta e nem indireta. 


4.1 O Arcadismo: detalhando Bocage

Para desvendar os detalhes árcades do clássico Bocage, escolhemos um poema, aonde é nítido o trabalho em manter o texto identificado como uma produção vinda de um poeta árcade, e é um texto mundialmente conhecido como um dos melhores de Manuel du Bocage; 


Olha, Marília, as flautas dos pastores

Olha, Marília, as flautas dos pastores,
Que bom que soam, como estão cadentes!
Olha o Tejo a sorrir-te! Olha não sentes
Os Zéfiros brincar por entre as flores ?



Vê como ali, beijando-se os Amores
Incitam nossos ósculos ardentes!
Ei-las de planta em planta as inocentes,
As vagas borboletas de mil cores!



Naquele arbusto o rouxinol suspira, 
Ora nas folhas a abelhinha pára,
Ora nos ares sussurando gira:



Que alegre campo! que manhã tão clara!
Mas ah! Tudo o que vês, se eu te não vira,
Mais tristeza que a morte me causara.

 Ele deixou não apenas marcas de arcadismo nesta obra dedicada a Marília, um de seus amore, mas as marcas do classicismo renascentista, que é a principal característica e a razão de existência do gênero árcade. A o mais nítido traço clássico do poema é que ele é um soneto, tendo seus catorze versos distribuídos em 2 quartetos e 2 tercetos. 
Como o bucolismo é uma marca particular do arcadismo, o cenário do poema é a natureza: "Olha o Tejo a sorrir-te! ", e em "Que alegre campo! que manhã tão clara!" e "
As vagas borboletas de mil cores!". A referência a mitologia gerga, característica clássica do retorno ao greco-latino, é perceptível em 2 versos do poema: 


"Olha, Marília, as flautas dos pastores," Essa referência acontece quando ele cita sobre as flautas dos pastores, que faz alusão a Pan, deus que chefiava os pastores que se dedicavam além do pastoreio, à poesia, na Arcádia, região mitológica da Grécia: é daí que se origina o nome Arcadismo. A mesma referência a mitologia é feita quando ele cita 
Os Zéfiros brincar por entre as flores ? , o poeta faz alusão a figura de Zéfiro, nome dado a divindade que personifica o vendo do oeste. 

5. Conclusão 

Diante da interpretação de dois famosos e importantes poetas de ambos gêneros, nos deparamos com a história da literatura da Língua Portuguesa, de maneira a compreender as diferenças entre a ideologia poética que crescia de tempos em tempos. 
Bocage e Gregório de Matos, embora não fosse conterrâneos, eram irmãos de língua e de escrita. É possível admirar e passar a compreender duas obras, mesmo que por muito não possamos entendê-las após a imediata leitura. Entendemos que ambos os gêneros eram contemporâneos aos fatos históricos que aconteciam, e cada um seguiu a linha de raciocínio e de sentimento, (não se esquecendo do discurso do poeta que é o sujeito da criação), nos levando a novo nível de admiração com as diferenças em poesias que antes julgávamos todas iguais, pertencentes a mesma dificultosa, complexa e convidativa língua, o Português.  


















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